''No esporte, o Brasil se torna uma só nação''
Dias antes de desembarcar em São Paulo, onde participa até amanhã da Semana Internacional do Esporte Pela Mudança Social, Auma Obama fez uma visitinha à Casa Branca. Filha de Barack Hussein Obama Sr. com a primeira mulher, Auma conheceu o irmão quando ele lhe escreveu após a morte do pai, em 1982. Os dois se encontraram em Chicago e, mais tarde, em Kogelo, o vilarejo natal dos Obama, no Quênia. Auma participou ativamente da campanha à presidência dos EUA e ouviu agradecimento especial no discurso da vitória. A relação deles é descrita com carinho por Barack em Dreams from My Father (A Origem dos meus Sonhos, no Brasil).
Auma mesmo evita falar no irmão, embora reconheça que o sobrenome ajuda a dar visibilidade à causa que defende como diretora para a África da Rede Esporte Pela Mudança Social e consultora da ONG Care. Formada em letras na Alemanha, com PhD em linguística, ela é fluente em inglês, alemão, swahili e luo, idioma da tribo onde nasceu. Vaidosa, cabelos rastafári, blusa florida recém-comprada na Rua Oscar Freire e sorrisão no rosto, Auma, que não revela a idade, falou com exclusividade ao Estado na manhã de ontem.
O Rio mereceu vencer Chicago como sede da Olimpíada, apesar do lobby do presidente Obama?
(Risos) É uma competição... Então, só nos resta parabenizar o vencedor.
Mesmo diante da violência...
Os críticos deveriam canalizar energias para garantir o sucesso da Copa 2014 e da Olimpíada 2016. O seu governo, se inteligente, investirá em infraestrutura e iniciativas de longo prazo para alavancar o esporte no País. Entidades que atuam nas comunidades carentes têm de participar da organização porque sabem usar o esporte como ferramenta de transformação social. É uma oportunidade! Nós vemos os jogos de futebol pela TV quando todos, pobres e ricos, se unem para torcer, celebrar e as desigualdades desaparecem. No esporte, o Brasil se torna um só.
Por que você escolheu o esporte?
É a melhor forma de atrair as crianças e garantir que voltem. Devagar, mudamos outros aspectos na vida deles. Na África, garotos de rua deixaram as drogas porque queriam melhorar seu desempenho. Então, eles mesmos passam a se preocupar com a saúde. Os torneios atraem as famílias, mobilizam comunidades inteiras e aproveitamos isso para fazer campanhas.
Como é ser uma Obama hoje?
Vamos ser honestos, você não estaria me entrevistando se eu não fosse uma Obama. Então, procuro canalizar essa atenção para o meu trabalho.
E como é a sua relação com ele?
Como a de quaisquer irmãos.
Como foi vê-lo chegar à Presidência dos Estados Unidos?
Não posso responder. O que tem a ver com meu trabalho?
É o primeiro afrodescendente...
Ok, você tem razão. Nesse sentido, Barack é um exemplo de que trabalhando duro e dando o melhor de si você pode chegar aonde quiser, até a ser presidente dos EUA. Essa mensagem é muito poderosa, um estímulo grande para as crianças e jovens pobres do mundo.