Download - É Mentira, Terta? (Chico Anísio)

18-07-2009 20:23

 

E AGORA, SENHORES E SENHORAS, tenho o prazer e honra de apresentar ao respeitável público desta nação o Sr. Chico Anísio. Na íntegra, Francisco Anísio de Oliveira Paula Filho, brasileiro, maior e vacinado, natural do país do Ceará. Quando esse Francisco foi inaugurado, o Brasil ainda vivia dos saldos da fabulosa década de 20, do jazz, de Rodolfo Valentino e do aeroplano.

Todo mundo de chapéu de palhinha, todo mundo de melindrosa em punho. Ainda amarravam cachorro com lingüiça. E lingüiça estrangeira. Época dos teatros jorrando público pelo ladrão. A vida era bem passada e bem engomada. Feliz e sem imposto de renda. Certo negociante de secos e molhados de Cruz das Almas veio ao Rio e não voltou mais para a comarca. E no rabo da despedida mandou esta carta para um dos seus compadres: "Só agora é que descobri que sou sem-vergonha de nascença.

E não tem para sem-vergonha de nascença como o Rio de Janeiro. Eu, que sou zarolho, já arrebanhei duas costureiras da Rua do Ouvidor e mais uma cômica do Teatro João Caetano. Se não sou avariado da vista, meio adernado para boreste, eu era sujeito de armar um harém nesta praça. E dos graúdos. É o que lhe digo, compadre, não tem como o sujeito ser sem-vergonha. Não tem!" A vida desses dias era mansa. Rodava a quarenta quilômetros por hora nas pernas do Ford de bigode.

Pois foi nesse tempo risonho e franco que o bom Chico do Ceará resolveu nascer. E trouxe para o resto da vida, como uma espécie de marca registrada, essa alegria ingênua, sem compromisso, dos anos loucos de 20. Hoje, Francisco Anísio de Oliveira Paula Filho é um dos atores mais importantes desta geração. Suas mãos têm esculpido em vento gestos imortais. Criou, com raro engenho e arte, os tipos mais populares do país, desde o coronel Limoeiro ao inesquecível Pantaleão Pereira Peixoto deste livro que agora tenho a honra de anunciar: "É Mentira, Terta?".

Chico fez muito bem em cair na pena e escrever o seu bom e astucioso escrever. Já disse que estamos diante de um escritor que sabe, como poucos, prender grandes massas de leitores. O curioso é que não há mistério nesse encanto. Chico trabalha suas inventorias, seja O Enterro do Anão ou O Batizado da Vaca, com a simplicidade das flores do campo. Não enfeita, não complica, não engana. É simples e natural. E em verdade vos digo, senhoras e senhores, que não existe neste país melhor mestre de comunicação do que esse Chico do Ceará.

Sua platéia é o Brasil todo, desde o juiz dos Feitos da Fazenda ou o Ministro da Educação ao mais desimportante limpador de borzeguins de Manaus ou de Bagé. Chico é hoje uma instituição nacional.

Como Pelé e como o café.



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