Honduras e sua novela das oito

09-11-2009 15:23


Personagens desta complicada situação que leva mais de 4 meses: Roberto Micheletti (presidente de fato), Manuel Zelaya (destituido), José Miguel Insulza (secretário OEA), Ricardo Lagos (ex presidente Chile), Hilda Solís (secretária de Trabalho dos EUA)

 

A possível restituição de Manuel Zelaya à presidência em Honduras é cada vez mais improvável.
 
No dia previsto para as eleições gerais, o golpe de Estado completará 5 meses, dentro do programado por Roberto Michelleti, exatamente no dia 29 deste mês.
 
Com observadores internacionais, organizações de direitos humanos, Organização dos Estados Americanos e com inúmeros outros atores, o governo Micheletti, segundo parece, será quem melhor se sairá nesta novela.
 
Por que chamo isto de novela? Veja bem. Temos o protagonista, Manuel Zelaya Rosales, destituído do cargo, itinerante, e também um pouco extravagante desde sua aparição com chapéu e expulsão do país de pijamas. Zelaya é um revoltado, um encrenqueiro, que não poupa esforços nem ajudas para conseguir seu objetivo num suposto roteiro.  
 
O antagonista, tem um ar de velhinho tranquilo, manso, de falar calmo. Uma imagem bem oposta à  explosividade do seu inimigo na trama. Micheletti, se me ocorre, é  como qualquer personagem de José Mayer. Aquele que fala baixo, não se exalta quase nunca, só que todos nós sabemos que ele apronta. E como apronta.  
 
Fora esses dois, temos outras personagens muito importantes. E quase tão centrais. Chávez, Estados Unidos, Brasil, OEA. Vou analisar apenas dois.
 
EUA é um grande aliado do velhinho. Chávez advertiu ontem (8) que “se os EUA enfraquecerem as demandas com o governo de Micheletti, o trabalho feito até agora não surtirá resultados”.
 
Muito bem, cabe aqui se perguntar qual seria o resultado que Chávez espera? Certamente a volta de Zelaya e, talvez, a reeleição dele. Mas, a segunda parte já é inviável, pois para ser reeleito, deve-se primeiro ser reempossado.
 
Se ficarmos com a primeira, isto é, a restituição de Zelaya ao poder legítimo em Honduras, nada seria mais normal que o presidente eleito passar o poder para o sucessor democraticamente. O argumento parece ser incontestável para a grande maioria da comunidade internacional, quero dizer, os atores.
 
Por outro lado, Micheletti fez questão de estabelecer a data das eleições e deixou bem claro que seria ele quem passaria o mando. Que Zelaya nunca voltaria a pisar em solo hondurenho sem ser detido, e que muito menos, teria como retornar à presidência da qual foi tirado.
 
Aqui no Brasil o sentimento misturou espanto e preocupação com a entrada de Mel Zelaya à embaixada brasileira em Tegucigalpa. Fizeram-se previsões terríveis sobre a imagem e as consequências internacionais que traria para o Brasil esse asilo político. No entanto, o Brasil foi quase o único país que tomou uma atitude que condiz com aquilo que se preza sobre a continuidade democrática, o respeito à instituição e aos valores que todos os outros concordam em falar, mas na hora de fazer... A diplomacia brasileira foi romântica, foi corajosa, foi brava, mas em nenhum roteiro o cara bom, bom demais, acaba bem.
 
Não ouvi ninguém até agora, analisar ou se pronunciar sobre a quebra do acordo de São José-Tegucigalpa. A quebra tem dois lados. Para Zelaya, que somente percebeu que foi enganado por Micheletti –como se fosse o único a ser enganado pelo político nascido em El Progreso- quando o presidente de fato pediu a demissão de todos os seus ministros e anunciou um governo de unidade nacional, mas presidido por ele próprio; o resultado disso é a derrota mais uma vez e, cada vez tem menos chances de conseguir o que se propõe. Voltar à presidência.
 
Do outro lado, Micheletti conseguiu enganar Zelaya e a todos os outros atores da comunidade internacional e ganhar tempo. O tempo precioso, o tempo que precisava para entrar na história –como ele mesmo anunciou há meses- e ser ele próprio a entregar a presidência de Honduras. Só falta saber qual será o candidato que escolha para isso.

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