Quando o Teatro Invade a TV

23-09-2009 12:51

teatro21

Estava querendo, há muito tempo, escrever algo que evolvesse televisão e teatro. Pesquisando no Santo Google vi que existem duas datas destinadas à comemoração do Dia do Teatro: 27 de março, que parece ter maior credibilidade entre os internautas, e 19 de setembro que alguns outros também destacam. Como o mês de março já passou faz tempo, decidi seguir a opinião do grupo de pessoas que comemoram o Dia do Teatro no dia 19 de setembro e fiz este post para vocês.

O Teatro é uma arte milenar que inspirou muitas e muitas almas desde a Grécia Antiga e continua a nos inspirar nos dias atuais. Não temos como negar que um bom espetáculo teatral (como Primus que vi recentemente em Curitiba) ainda nos faz sentir um encantamento e uma magia única. A televisão, em alguns momentos, nos disponibiliza alguns programas dignos de serem considerados obras-primas. Afinal, quantos personagens marcaram nossas vidas? Quantas histórias nos emocionaram? Imaginem só quando a TV resolve contar suas histórias utilizando elementos do teatro! Tem que sair coisa boa, não é mesmo?

Pensando nessa junção, destaquei cinco séries que marcaram de uma forma ou de outra a história recente da televisão brasileira, exatamente por saber fazer tão bem a união de duas formas de expressão que parecem tão distantes, mas que ficaram perfeitas quando unidas. Por incrível que possa parecer para alguns, todas elas foram produzidas e exibidas pela Globo.

Hoje é Dia de Maria

Hoje é Dia de Maria

A microsérie dirigida por Luiz Fernando Carvalho foi exibida no início de 2005 em comemoração aos 40 anos da TV Globo. Em outubro do mesmo ano foram exibidos cinco novos episódios na chamada 2ª Jornada de Hoje é dia de Maria. A história era recheada de contos e histórias da cultura popular em um universo estético rico e criado especialmente para as gravações. O cenário foi construído em um grande circo no Projac e parecia mesmo um grande palco de teatro. Na minha humilde opinião, esse foi o primeiro namoro da TV contemporânea com o teatro, principalmente pela direção de arte muito semelhante à do teatro, com um cenário muito vivo e muito próximo do telespectador.

No site da minissérie tem vários links interessantes, como um joguinho com o figurino de Maria e este aqui com as anotações do diretor.

A Pedra do Reino

A Pedra do Reino

Mais uma minissérie em que Luiz Fernando Carvalho está envolvido. Esta inicia o Projeto Quadrante que tem como objetivo principal colocar no ar séries adaptadas de obras literárias. Neste caso, a adaptação foi de A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna. Muitas criticas negativas à série foram feitas, principalmente por ela ter uma linguagem muito rebuscada para a TV, dificultando o entendimento da mensagem pela maioria dos telespectadores. Independente disso, temos que destacar que este foi mais um projeto em que elementos do teatro foram bem utilizados e fizeram nossos olhos brilharem com toda aquela estética que nos foi apresentada.

Capitu

capitu

Segunda série do Projeto Quadrante, também teve como diretor Luiz Fernando Carvalho. Esta, ao contrário de sua antecessora, teve uma ótima aceitação pela crítica e pelo público e, na minha opinião, é teatro quase puro! O cenário, o roteiro, e as interpretações exageradas remetem ao teatro em sua forma mais bela. Uma pena que os dois novos projetos do Quadrante foram adiados por tempo indeterminado.

Decamerão

Decamerão_Comédia do Sexo

Projeto desenvolvido por Jorge Furtado e Guel Arraes, traz para o telespectador uma comédia com um texto muito bom e uma estética bem diferente das séries que costumam passar no horário nessa época do ano. É baseada na obra de Giovanni Boccaccio e traz histórias sobre o amor, visto de diferentes óticas. O destaque desta série fica por conta da declamação dos diálogos em versos, o que também me faz lembrar muito o teatro. Tem um elenco de peso (Deborah Secco, Lázaro Ramos, Matheus Nachtergaele, Leandra Leal, Daniel de Oliveira, Drica Moraes e Tonico Pereira) que consegue dar esse ar teatral sem deixar a série com um ar falso, artificial. Muito embora o telespectador tenha que se adaptar a uma linguagem totalmente incomum na TV.

Som & Fúria

Som&Fúria

E, por fim, não poderíamos deixar de lembrar desta série que tem tudo a ver com este post. Afinal, a temática central é o Teatro. Toda a trama se desenvolve a partir de uma companhia teatral que tenta a todo custo levar aos palcos as obras do grande nome internacional do teatro: William Shakespeare. Mas, não é só por causa da temática que a série está aqui. Vocês lembram as cenas de Daniel Oliveira interpretando Hamlet? E as cenas da apresentação do espetáculo? Eu, realmente, me transferi para o Municipal de São Paulo e me emocionei como se estivesse ali, cara a cara com aqueles ótimos atores. Vejo esta série como uma declaração de amor escancarada ao teatro e, por isso, ela não poderia deixar de estar por aqui. Na direção e coordenação de todo o projeto temos o brilhante Fernando Meirelles e no elenco temos o retorno perfeito de Felipe Camargo.

Não sei o que vocês acham, se concordam ou não. Mas, nos últimos anos há uma tendência a levar elementos do teatro (estética, construção de diálogos, formas de atuação) até às telas de TV. Feita com responsabilidade, como exemplificadas nas séries acima, eu acho super válida essa iniciativa, pois acaba aproximando o público de uma arte que muitos desconhecem: o Teatro. Mesmo desconfiando que o dia certo de comemorar é 27 de março, não posso deixar de dizer: Viva o teatro! Viva a televisão de qualidade! E que os diretores ousem cada vez mais nessa área, pois nada melhor do que a união desses dois espaços, não é mesmo? Pelo menos até o momento está dando certo e está nos trazendo ótimas experiências.


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